Por que você não deve comparar seu filho: entenda como isso pode minar a confiança dele

No universo da educação infantil, pais e responsáveis frequentemente se veem perdidos em meio a tantas informações, expectativas e, inevitavelmente, comparações. Seja com o primo que já anda, com o colega de sala que já lê fluentemente, ou até mesmo com o irmão mais velho que "tirava notas melhores", a tentação de comparar é real. No entanto, é crucial entender que essa prática, ainda que bem-intencionada, pode ser um terreno fértil para minar a autoestima e a confiança de uma criança, deixando marcas que persistem muito além da infância.
Cada criança é um universo: a individualidade do aprendizado
O desenvolvimento infantil é um processo único. Cada criança possui seu próprio ritmo, suas particularidades genéticas, seu temperamento e suas experiências de vida, que moldam a forma como ela aprende, interage e se expressa. Comparar um filho com outra criança é ignorar essa individualidade essencial. É como tentar comparar uma flor que desabrocha no verão com outra que floresce no inverno; ambas são belas, mas cada uma tem seu tempo e suas condições ideais para brilhar.
Do ponto de vista psicológico, a comparação constante pode gerar uma percepção negativa da criança sobre si mesma. A Teoria da Autoeficácia, proposta pelo psicólogo Albert Bandura, um dos mais influentes pensadores da psicologia social, é um excelente embasamento para compreendermos esse impacto. Bandura defende que a autoeficácia é a crença de um indivíduo em sua capacidade de ter sucesso em situações específicas ou de realizar uma tarefa. Quando uma criança é frequentemente comparada e sente que não atinge o "padrão" do outro, sua autoeficácia diminui. Ela passa a acreditar menos em suas próprias habilidades, em seu potencial, e isso afeta sua motivação para tentar, persistir e aprender. Em vez de se sentir incentivada, ela se sente inadequada, gerando um ciclo vicioso de desconfiança e frustração.
Incentivar versus Comparar: a linha tênue da motivação
É fundamental distinguir incentivo de comparação. Incentivar é reconhecer o esforço do seu filho, valorizar suas conquistas (por menores que sejam), encorajá-lo a tentar novamente e a acreditar em seu próprio potencial. É focar no processo e no progresso individual dele. Frases como "Que legal que você tentou!", "Percebo que você se esforçou muito para fazer isso!" ou "Continue praticando, você está melhorando a cada dia!" fortalecem a confiança.
Por outro lado, comparar é, muitas vezes, focar no resultado alheio e, indiretamente, na falha ou na insuficiência do seu filho. "Seu colega já lê, por que você não?", "Seu irmão nunca fez isso quando tinha a sua idade" são frases que transmitem a mensagem de que ele não é bom o suficiente, que precisa ser "igual ao outro" para ser valorizado. Isso gera ansiedade, inveja e um sentimento de que o amor e a aprovação dos pais dependem de um desempenho que talvez ele não consiga entregar, causando um impacto profundo em sua saúde emocional.
A escola: muito além das notas e do currículo
A escola é, sem dúvida, um espaço de aprendizado de português, matemática, ciências e história. Mas seu papel é infinitamente mais amplo, especialmente para as crianças pequenas. É ali que elas experimentam a socialização em um ambiente mais estruturado fora de casa. Aprendem a dividir a atenção do professor, a compartilhar brinquedos e materiais, a negociar com os colegas e a resolver pequenos conflitos.
A escola é também o primeiro grande palco (depois da casa e do convívio com os pais) onde a criança aprende a lidar com a frustração. Nem sempre ela será a primeira a terminar uma atividade, nem sempre terá a resposta certa, e nem sempre conseguirá o que quer. Essas experiências são cruciais para o desenvolvimento da resiliência e da inteligência emocional. Professores e colegas oferecem diferentes perspectivas e desafios, contribuindo para que a criança construa sua identidade e sua capacidade de se relacionar com o mundo. Em um ambiente escolar saudável, o foco é no crescimento individual e no apoio mútuo, não na competição baseada em comparações.
Celebre a unicidade do seu filho
Ao invés de comparar, convido pais e responsáveis a celebrar a unicidade de cada filho. Observe suas particularidades, suas paixões, seus desafios e seus sucessos. Apoie-o em suas descobertas, encoraje-o a enfrentar seus medos e mostre-lhe que seu valor não está atrelado ao desempenho de outra pessoa, mas sim ao seu próprio esforço e à sua essência.
Lembre-se: o maior presente que você pode dar ao seu filho é a certeza de que ele é amado e aceito exatamente como ele é, com seu próprio ritmo e sua própria luz. Essa é a base mais sólida para construir uma autoestima forte e uma confiança inabalável que o acompanhará por toda a vida.
REFERÊNCIAS:
https://revistaeducacao.com.br/2021/01/18/aprendizagem-social-al/